Pelo relato abaixo vocês entenderão a razão desta justa homenagem. A pessoa em questão foi um exemplo de dedicação contínua e voluntária a uma causa pioneira em educação popular e inclusão social, cujo nome batizará um logradouro público ainda sem denominação oficial.
Este é SYLVIO VIANNA FREIRE
(texto adaptado de Alba Carneiro Bielinski)
Dr. Sylvio Vianna Freire nasceu em 19 de maio de 1903 no bairro Praia de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro. Após ter completado o antigo curso primário, ingressou no Liceu de Artes e Ofícios aos 12 anos de idade, em 1915, Frequentou inicialmente as aulas do chamado Curso de Propedêutico, mais ou menos equivalente às séries anteriores ao ensino médio atual, e depois as do Curso Comercial.
Ainda aluno foi convidado, em 12 de abril de 1919, com apenas 16 anos, pela direção do Liceu a lecionar História do Brasil no curso preliminar, devido ao excelente aproveitamento e destaque nos estudos e na conduta. Em 1920 diplomou-se como guarda-livros no Curso Comercial, correspondente hoje ao de Contabilidade.
Já nessa época, lecionava também Matemática Elementar para alunos matriculados no Liceu. Passou depois a ensinar História da Civilização e do Brasil e Elementos de Economia Política. Foi professor do Liceu de 1920 a 1956.
Em 1920 foi admitido na Câmara de Deputados como taquígrafo, onde trabalhou por 43 anos, tendo exercido várias comissões de confiança e percorrido todas as funções até o cargo de Diretor Geral, em que se aposentou em 1963, após ter organizado a Secretaria da Assembléia Legislativa do então Estado da Guanabara.
Participou ativamente da vida cultural do Liceu de Artes e Ofícios e no Grêmio Literário Béthencourt da Silva, do qual pertenceu ainda estudante: foi 1º bibliotecário, depois diretor, moderador nos debates, orador oficial e redator de publicação mensal da sociedade estudantil, a revista Evoluindo.
Depois da família, adotou como sua segunda paixão o Liceu de Artes e Ofícios, admirável monumento que representa a força de vontade dos que tomaram a si, espontaneamente, o imenso compromisso de não deixar perecer os ideais do fundador Béthencourt da Silva.
Em 1937 Sylvio Vianna Freire concluiu o Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade do Brasil (depois Faculdade Nacional de Direito da atual UFRJ).
Na vida pública ocupou destacados espaços, pelo seu amor ao trabalho e sua competência aliadas a mais exemplar probidade pessoal.
Secretariou a Embaixada do Brasil às festas do Centenário da República Oriental do Uruguai, em 1930. Em 1934 foi contatado pelo Governo do Uruguai para atuar na VII Conferência Internacional Americana. Foi secretário da Delegação dos deputados brasileiros à 42ª Conferência Internacional Americana, reunida no ano de 1953 em Washington.
Em 1937, tornou-se oficial de Gabinete do Ministro Alexandre Marcondes Filho e Membro e Secretário da Comissão de Segurança Nacional do Ministério da Justiça que funcionava no antigo Palácio Monroe situado na Cinelândia e já demolido.
Após anos de magistério no Liceu de Artes e Ofícios, em 1939 foi indicado para sócio efetivo da Sociedade Propagadora das Belas Artes (SBPA), mantenedora do Liceu.
Empreendeu memoráveis lutas em prol da continuação do Liceu – a Escola do Povo, pois em 1939, a Sociedade entrou em colapso em virtude de quatro Decretos-Leis baseados na Constituição de 1937 expedida por Getúlio Vargas, quando a escola foi retirada do local onde se encontrava – Avenida Rio Branco, 174 – por atos do chamado Estado Novo.
Foi nesse período de desespero que Dr. Sylvio Vianna Freire, aos 42 anos, foi eleito e alçado ao cargo de vice-presidente da Sociedade Propagadora das Belas Artes em 5 de maio de 1945. Entretanto, logo em seguida, teve que assumir interinamente a presidência em virtude do afastamento do titular, por doença. Na assembléia de 5 de maio de 1947 foi confirmado como Presidente efetivo e liderou uma luta renhida e incessante para preservação e sobrevivência do Liceu, que havia sofrido expropriação do seu patrimônio. Iniciou então a fase de recuperação patrimonial e financeira da Instituição.
Graças ao seu empenho e dos inúmeros atos dos professores, o Liceu recebeu o terreno onde construiu sua nova sede – Rua Frederico Silva, 86 e pode assim, dar continuidade ao trabalho de oferecer educação e cultura à comunidade do Rio de Janeiro. A obra do novo prédio, na Praça Onze foi sendo completada por vários anos, porque o Estado deixou de cumprir a obrigação que assumira em virtude de dispositivos legais. A SBPA, com recursos próprios, foi aos poucos tornando o edifício inteiramente apto para cumprir suas finalidades.
Após esse período conturbado e com várias crises aflitivas, graças à sua liderança e empenho as instituições ressurgiram das cinzas.
Pelos relevantes serviços que prestou à secular Instituição, com exemplar devotamento e comovente desambição, os sócios da Sociedade em Assembléia Geral Ordinária lhe conferiram os títulos de Sócio Benemérito e da indicação para inscrição de seu nome ao lado de Béthencourt da Silva como Grande Benfeitor, em 14 de março de 1977. Foi agraciado, também, com a Medalha de Ouro do Centenário da Entidade, bem como a Medalha Ruy Barbosa. Também foi agraciado com a Medalha dos Descendentes do Fundador do Rio de Janeiro.
Recebeu, em 01 de outubro de 1981, o título de Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, concedido pela Assembléia Legislativa.
Em 23 de novembro de 1991, na comemoração dos 135 anos de fundação foi lançado o livro de sua autoria A Sociedade Propagadora das Belas Artes e o Liceu de Artes e Ofícios – 135 Anos a Serviço da Educação e da Cultura. Em 1998, escreveu: Aconteceu na Câmara – reminiscências de um taquígrafo,e em 2001: A vida que gostei de viver – qual o segredo da longevidade?
O Professor Sylvio Vianna Freire faleceu no dia 26 de janeiro de 2010, com 106 anos, e foi importante colaborador da educação do Brasil,. Durante 63 anos presidiu a Sociedade Propagadora de Belas Artes, órgão responsável pela administração do Liceu de Artes e Ofícios e da Faculdade Béthencourt da Silva. Tendo um século e meio de História, o Liceu de Artes e Ofícios é uma das instituições de ensino mais tradicionais do Estado, atendendo uma população desfavorecida economicamente, sendo precursora do ensino profissionalizante do Brasil. Sua atuação foi marcada pelo dinamismo, permanente desvelo, dedicação contínua e voluntária a essa obra pioneira em educação popular e inclusão social. Ele comentou: “Decorridos tantos anos, ao ver esses 3 edifícios ocupados por gente estudiosa de nossa terra sinto o consolo de saber que não foi em vão todo esforço empreendido e imagino que aquilo tudo tenha sido feito, não pela obra dos homens, mas com o auxílio da varinha de condão, guiada pela mão de Deus”.