Nas últimas décadas, o aumento das enchentes urbanas, causadas sobretudo pela impermeabilização do solo das cidades, teve como resposta em todo o mundo a macrodrenagem, com a canalização de rios, implantação de bacias de retenção e construção de galerias pluviais cada vez maiores. Hoje, porém, a implantação, operação e manutenção dessas grandes redes sanitárias tornam-se cada vez mais complexas e onerosas, e municípios e Estados se vêem diante de grandes dificuldades de financiamento do saneamento básico.
Diante desse novo paradigma, a gestão sustentável das águas pluviais oferece a chance de baixar custos, economizar água tratada e energia elétrica e restaurar o ciclo hidrológico das cidades, favorecendo, por exemplo, a recarga das águas subterrâneas. Está claro que não se pode descartar a macrodrenagem, mas esse processo combate apenas de forma emergencial os sintomas, quando o melhor seria a prevenção: água de chuva captada e guardada, pode ser filtrada no local de uso, tratada com facilidade e então servir para descargas de banheiro, lavagem de roupas, pisos, carros e calçadas. E vale lembrar que cada m3 de água que não precisa vir dos reservatórios, é uma tonelada de água a menos a ser bombeada, daí a economia de energia.
Como construir:
Jack Sickermann, gerente da 3P Technik - Gerenciamento Sustentável da Água de Chuva, ensina a projetar um sistema para captação e aproveitamento de águas pluviais para uso doméstico.
Não há necessidade de números precisos, o que é necessário é estabelecer a correlação entre o consumo e a colheita de chuva, e o volume recomendável do armazenamento em função da sazonalidade (meses sem chuva). São dados simples, mas que permitirão ter uma idéia mais clara do projeto hidráulico e dos custos envolvidos.
Para saber que volume de água de chuva pode render determinado projeto, uma equação dá a resposta:
Q = P x A x C
onde
Q = Volume anual de água (m3)
P = Precipitação, anulando-se a média (m3)
A = Área projetada da cobertura (m2)
C = Coeficiente de Runoff
Instalação
A facilidade da instalação de um sistema de aproveitamento de água de chuva em edificações, sobretudo residências unifamiliares, assemelha-se à execução de sistemas do tipo faça você mesmo. A maior parte dos componentes são encontrados em qualquer obra, como tubos, calhas e cisternas, de modo que podemos aqui nos concentrar no kit chuva. O sistema de captação de águas pluviais pode ser montado da maneira usual. A diferença é que alguns componentes auxiliares completam o processo de reaproveitamento da água.
O filtro
A chuva, depois de ser captada pelas calhas e transportada pelos tubos de descida, não vai para a galeria pluvial, mas para um filtro. A função dessa peça é eliminar galhos, folhas e outros detritos, para que a carga orgânica na água estocada seja a menor possível. O corpo do filtro é feito de polietileno, assim o equipamento poderá ser enterrado. Uma extensão permite o acesso ao miolo filtrante de aço inox, que pode ser puxado por uma haste (acessório).
Esse componente não acumula sujeiras e detritos maiores são levados diretamente para a galeria pluvial ou podem ser guardados em uma cesta para compostagem posterior. O desenho do miolo filtrante foi feito para que, em condições normais, somente 5% da água que passa se perca, levando os detritos embora. A água passa ainda por uma tela (malha especial de aço inox), que precisa ser inspecionada e limpa antes e depois da época das chuvas, para retirar areia, poeira e outras substâncias que podem obstruir a passagem da água.
O filtro funciona bem com chuva de pequeno ou grande volume, processando até 9 l/s. Para telhados grandes existem filtros com capacidade de processamento maior. Todos os encaixes para tubos - duas entradas, saída para cisterna e para a galeria pluvial - são de 100 mm de diâmetro, como os demais componentes do sistema.
O amortecedor (freio d'água) A manutenção da qualidade da água estocada depende da ausência de turbidez e da qualidade da decantação: há necessidade de se evitar que a água vinda do filtro bata na superfície ou entre com muita pressão no tanque ou na cisterna. Essa é a função do amortecedor, um vaso de expansão que, instalado no fundo do reservatório, recebe a água vinda do filtro por meio de um tubo de 100 mm de diâmetro. Assim, a água vinda do tubo se expande, e perde força, saindo apenas para cima, sem remexer a sedimentação depositada no fundo da cisterna. É importante enfatizar que a existência de partículas suspensas na água é importante e até benéfica, desde que haja uma boa sedimentação. O conjunto de sucção flutuante Em qualquer cisterna ou tanque, a água é mais límpida logo abaixo da superfície, por isso deve-se retirar a água nessa faixa. Com isso se evita que partículas suspensas entupam a bomba, diminuindo o desgaste e o consumo de energia. O conjunto é formado por uma conexão para a bomba, uma mangueira flexível especial, uma válvula anti-retorno, um filtro de tela e uma bóia, que mantém a entrada com o filtro sempre perto da superfície, qualquer que seja o volume na cisterna. O sifão É recomendável prever no projeto que a cisterna fique ao menos duas vezes por ano totalmente cheia, para que o sifão possa cumprir a função principal, que é limpar o espelho d'água da cisterna. Partículas muito finas, como o pólen das flores, e substâncias oleosas podem se acumular na superfície. E embora, em princípio, esses materiais não prejudiquem a qualidade da água, convém retirá-los periodicamente. Outras funções importantes do sifão são atuar como selo hidráulico, evitando a entrada de odores do lado de fora, em geral, da galeria pluvial, e impedir a entrada de roedores, sobretudo de ratazanas, portadoras de diversas doenças. A barreira se faz por meio de uma lâmina espiral ou pelo desenho do sifão, quando as aberturas por onde se aspira a água são estreitas demais para um animal ter acesso à cisterna. Dicas A principal recomendação é que o sistema de aproveitamento de água de chuva deve ser impreterivelmente identificado como tal. A água de chuva não é água tratada e não deve ser misturada com a água fornecida em hipótese alguma. Tubos, torneiras (de preferência com trava) e a caixa d'água devem ostentar inscrições que alertam que não se trata de água tratada. Além disso, o sistema de realimentação com água tratada, em períodos de estiagem deve tornar impossível o refluxo de água da cisterna de chuva para a tubulação de água fornecida. É a ação conjunta dos elementos do kit chuva que garantem a boa qualidade da água estocada, por isso não se deve eliminar nenhum dos componentes. Na Alemanha, onde se instalam em torno de 100 mil sistemas/ano, a futura norma DIN sobre o tema prevê o uso obrigatório do conjunto completo. Na comissão de estudos que prepara a norma ABNT "Captação e Uso Local das Águas Pluviais" esse tema também será discutido. Uma cisterna de boa qualidade é indispensável ao bom funcionamento do sistema, sobretudo no que diz respeito à vedação das passagens dos tubos e da tampa de inspeção. A estanqueidade é garantida, ainda, com a manutenção preventiva da cisterna, para não deixar que sujeira entre pelas rachaduras. Boas alternativas são cisternas pré-fabricadas de concreto ou tanques de polietileno. A instalação de um reservatório subterrâneo de qualquer material facilita a proteção da água contra a luz solar e o calor. O uso do kit higiene, composto por amortecedor, conjunto de sucção e sifão, é recomendável onde houver cisternas de água fornecida. Ligações clandestinas, rupturas nas tubulações e outras causas fazem com que terra, água suja e impurezas sejam aspiradas e entrem na cisterna. Com a ação da turbidez e a bomba captando a água mais ao fundo do reservatório, essa sujeira vai para as caixas de água e para as torneiras. O kit irá diminuir ou até eliminar essas consequências por um custo perto do de uma limpeza da cisterna e das caixas. Matéria extraída da Téchne nº 59 Legislação Citada Atalho para outros documentos Informações Básicas
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