Art. 2º O Poder Executivo editará os atos necessários para o cumprimento do que dispõe o art. 1º desta Lei.
Vereador RENATO MOURA
No século XIX pela flauta de ébano de Joaquim Antônio Calado, nasce à música Flor Amorosa que se desabrocha no Rio de Janeiro, como o “Choro”. Um gênero musical, ou jeito de tocar, genuinamente carioca. No século XX, mais uma descoberta para a cidade maravilhosa, o advento do samba, enraizado nos morros e a partir de 1930 tornou-se patrimônio cultural, passando a nos representar enquanto identidade brasileira no mundo. Em 1957, outra concepção musical começa ser traçada pela Bossa Nova.
Entram os anos 60, e com ele, a ditadura militar, a febre do iêiêê dos Beatles, a Jovem Guarda, o crescimento das bandas covers de rock que, inflamaram os salões com os conjuntos de bailes. Emerge a encantadora MPB e o expressivo movimento Tropicalista. Chegando ao fim da década, em 1969, o homem vai à lua. O Brasil de noventa milhões em ação, começa a se preparar para assistir o maior espetáculo da terra, a copa do mundo do México, exibida na TV, pela primeira vez em cores.
Naqueles duros anos de chumbo, e de milagre econômico brasileiro, começa o lendário Baile da Pesada no Canecão, reunindo gente de várias partes da cidade. Concomitantemente, acontece no bairro do Catumbi, o primeiro baile black do país e eclode a circulação em massa de jovens da camada popular pelos clubes. A rapaziada resistiu, venceu a discriminação e acabou conquistando espaço, pois o grosso da tropa, antes não usufruía desse dispositivo de lazer e entretenimento, prática comum, mas exclusiva entre as elites.
A cena black, adentrou os idos anos 70, produzindo uma atmosfera muito representativa na cultura brasileira. Os pretos, no afã de alcançarem representatividade social, reivindicaram o Black Power e vestiram o lema Black is Beautiful, dando voz e empoderamento a um contingente que, conseguiu com muita luta transcender os retrógrados pensamentos sobre a condição do afrodescendente brasileiro e o sistema antidemocrático que imperava nos tempos de censura. Em meio a tantas sublevações, em diversas capitais do país, logo os crescentes bailes tornaram-se alvo de investigação. Pois, havia uma preocupação com a notável reunião de tantos jovens do subúrbio com indumentária estilizada, fugindo ao protótipo nacional e dialogando com o Movimento Black americano.
Quando iniciei a pesquisa para escrever a Enciclopédia do Funk imaginei produzir um livro que mapeasse o gênero musical, em quinhentos verbetes e setecentas imagens sobre as quatro décadas e meia do funk carioca. Entretanto, como estava no processo da escrita do romance “A lenda do funk carioca” com cronologia entre 1970 e 2014, assim que acabei, descobri um livro com 1.500 páginas onde os anos 70 era falado num panorama geral. Jamais imaginei que iria me aprofundar num trabalho sistemático sobre o soul. Porém, quando entrei em contato com a grandiosidade que foi o movimento Black Rio, acabei resolvendo encarar esse desafio e realizar uma obra inédita especificamente dedicada aos anos setenta. Dividindo a enciclopédia em volumes por décadas até os dias atuais, começando em 1956 com o pai da soul music, James Brown.
Para minha sorte, tive um auxílio luxuoso das maiores referências sobre essa cultura no país que, estão vivos e mergulharam de cabeça junto comigo na tentativa de resgatar um pouco da história que ainda hoje tem um escasso material publicado sobre esse período no Brasil. Os livros que me serviram de suporte nessa etapa inicial foram “O mundo Funk carioca” de Hermano Vianna, “Todo DJ já sambou”, de Claudia Assef, “Batidão, uma história do funk”, de Silvio Essinger e “Funk carioca: Crime ou cultura? O som dá medo e prazer” de Janaína Medeiros, são livros importantes que me deram uma premissa de que caminho percorrer. A partir daí, convidei a Jornalista e pesquisadora Erica Magni para entrar nessa empreitada, e ela foi sublime na forma e no conteúdo, fez um levantamento do que havia sido publicado em jornais no período entre 1970 e 1979. Comecei uma correria para buscar fontes bibliográficas e, sobretudo, entrevistar as pessoas que nos anos 70 fizeram suas equipes de som no fundo de quintal, colocaram um nome e participaram ativamente dos festivais e de todo processo de construção do movimento Black.
Certa vez, Luis Carlos Nascimento me convidou para uma reunião de amigos em sua casa no bairro de Vila Cosmos, Zona Norte do Rio. Chegando lá, na mesma hora em que me apresentava ao Zé Black da equipe Soul Grand Prix, disse que iria conseguir o contato do Tony Minister para eu bater um papo com ele. Zé Black me falou um pouco sobre a SGP o Renascença, Noites do Shaft, o Astória, o Minerva e o Orfeão Portugal. E mais ainda, disse que, para eu avançar no meu trabalho era preciso conhecer o evento organizado pelo Samuel no primeiro sábado de cada mês na estação do Estácio, e que chegando lá, eu iria ter contato com os maiores nomes.
Alguns dias depois Luis Carlos Nascimento descolou o contato do Tony Minister e eu fui até o bairro do Engenho de Dentro entrevistá-lo. Ali o bicho pegou legal, pois durante umas cinco horas, ele me contou histórias incríveis sobre equipes conhecidas e das equipes raras pioneiras como a Modelo, Laranja Mecânica, Serginho de Cascadura, um dos primeiros a montar equipes no Rio, uma lenda e quase ninguém conhece. Falou das pessoas que eu tinha que procurar que podiam me ajudar com datas e matérias para ilustrar o livro. Depois também de conhecer um pouco sobre seu trabalho como artista plástico brilhante saí de sua casa com uma grande expectativa que ele fizesse a capa do meu livro. Além disso, o próximo passo seria conhecer o Funk Gil. Um genuíno mergulho na cultura underground, com quem viveu a parada desde os primórdios e há décadas pesquisa sobre música.
Depois de tentar marcar um encontro, acabei me esbarrando com o Gil, por acaso na feira do vinil que, acontece a quarenta anos próximo ao Buraco do Faim, defronte ao bar do Ceará em Bangu, aos domingos de manhã. Esse dia foi sensacional, quem me levou à feira foram dois discotecários moradores da Zona Oeste, apaixonados pela black music, Dom Gordo e o J.Inácio. Minutos antes bati um papo e aprendi muito com um parceiro do Gil de longa data, o Mário Peixinho vendedor de discos que fundou com Samuel e Gil o “malódromo da Carioca”. Eram tantas pessoas para eu conversar ao mesmo tempo que, fiquei com uma caneta e um pedaço de papel na mão anotando alguns nomes mais complicados. Como não tenho o hábito de usar gravador, quando estou entrevistando dez pessoas ao mesmo tempo, no geral costumo memorizar a conversa e depois faço a readequação do conteúdo tirando a limpo na consecução da pesquisa.
Esse domingo foi extraordinário, depois de aprender muito com o maestro Funk Gil, o Tião irmão do discotecário Pedrinho que tocou música lenta na equipe Dynamic Soul, reencontrei o pesquisador, produtor e discotecário Sir Dema do Club do Soul, uma pessoa que foi decisiva na construção deste livro, um mestre. O Dema me apresentou pra muita gente, disponibilizou documentos raros como, por exemplo, o jornal da Câmara dos Vereadores com o registro da fala de Mister Funk Santos. Além de um verdadeiro arsenal de filipetas e muita paciência para tantas perguntas que eu diariamente fazia. Dom Filó, um dos pilares da parte ideológica do movimento Black Rio, e que eu já conhecia e admirava muito, tive o prazer de reencontrá-lo na casa do Dema e tirar mais dúvidas e descobrir conteúdos e imagens preciosas. Realizou um sonho meu de entrevistar o Cezar e trazer a lume a história da equipe Uma Mente Numa Boa.
Dj Nazz foi sensacional também, abriu um horizonte, foram várias histórias incríveis e me passou contatos importantes para eu avançar na pesquisa. Acir filho da Equipe A Cova, um contador de histórias extraordinárias, Gilberto Guarany e seu acervo invejável, Paulinho e Paulão Black Power, Rômulo Costa, Marcão da Cash Box, Nirto, Cientista Dj, Robinho Paraguaçu, Dj Bira J.B Soul. Dom Jaime disponibilizou seu acervo de filipetas para enriquecer o trabalho. Samuel é um capitulo a parte, uma sumidade, portador de histórias maravilhosas. Na estação de metrô do Estácio aprendi muito sobre os primórdios dos bailes blacks, tive a oportunidade de conhecer Dom Jorge, Adesman, Jailson, Edinho Gravatinha do importante grupo de dança o Phialadelphia. Ailton Pegado da equipe Prelúdio me passou coisas fantásticas sobre as equipes pioneiras da Baixada Fluminense.
Ricardo Ultra Funk foi grande parceiro cedendo seu material de arquivo e prospectos maravilhosos. Mauro da equipe Ultra Soul me falou várias coisas incríveis e me passou o mapa das equipes do Irajá. Contudo, sou grato a todos que estarão direta, ou indiretamente enriquecendo cada página desse livro. Ademais, quero ressaltar que, tive a sorte de ser acolhido por essas pessoas maravilhosas, que, passei a admirar profundamente e ter total gratidão pela generosidade que tiveram comigo. Como retribuição ao carinho recebido, eis aqui a prova cabal que, vocês escreveram um capítulo na cultura desse país, o movimento Black Rio, representa um patrimônio imaterial do Rio de Janeiro. Notas do autor Marcelo Gularte (fragmentos do livro sobre Movimento Black)
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