O surfe hoje é o esporte náutico mais praticado no mundo, inclusive no Brasil. Aqui são milhões de praticantes, perdendo apenas para o futebol. Esses dados colocam o surfe em destaque no cenário desportivo nacional, onde, entretanto, o desenvolvimento deste esporte poderia ser muito maior, caso houvesse maior participação e apoio por parte do Poder Público.
Os primeiros indícios da chegada do surfe no Rio de Janeiro datam das décadas de 1940 e 1950. Não se sabe exatamente como o esporte chegou. Uns dizem que foram funcionários de empresas aéreas, outros falam em turistas, alguns em filmes americanos que já estampavam o esporte nas telas, mas o certo é que, nessa época, cariocas já eram vistos sobre tábuas de madeira feitas por eles mesmos deslizando sobre ondas na Praia do Arpoador.
Entre 1962 e 1963, um carpinteiro de Ipanema começou a fazer pranchas de madeira e a comercializa-las, difundindo o surfe, que antes ficava restrito a pequenos grupos de praticantes. Em janeiro de 1964, a revista O Cruzeiro mostrou que a história do surfe no Rio de Janeiro estava apenas começando quando anunciou a “sensação” daquele verão: “Há algo de novo sob o sol do Arpoador – que, este ano, toma feições de praias havaianas, com rapazes deslizando na crista das ondas equilibrados sobre pranchas. E o esporte tem nome inglês: ‘surfing’”.
Na década de 1960, o esporte começou a dar importantes passos rumo a uma profissionalização maior. Em 1965, foi criada a Federação Carioca de Surfe, que organizou as primeiras competições. Também foi nesse ano que era aberta primeira fábrica de pranchas do Brasil, a carioca São Conrado Surfboard, que introduziu no Rio de Janeiro as primeiras pranchas de fibra de vidro.
Na passagem dos anos 1960 para os 70, uma nova revolução cultural mundial exerceria muita influência no universo do surfe: o movimento hippie. O Rio de Janeiro não poderia ficar de fora desse movimento, o resultado dessa aproximação foi a saída de cena da “geração surfe”, muito mais comedida, para dar lugar aos extravagantes surfistas hippies.
Essa fase da evolução da história do surfe no Rio de Janeiro coincidiu com a “descoberta” da cidade de Saquarema pelos surfistas. Muitas vezes eles acampavam lá durante o verão inteiro para viver o livre contato com a natureza, sem muita infraestrutura. Alguns fixaram residência e resignaram de empregos promissores para investir na cidade com ondas fortes e tão fascinantes.
A esta altura, diversos picos eram descobertos no Rio de Janeiro, e o esporte se popularizava ainda mais. Hoje em dia, os melhores picos da cidade do Rio ficam na zona oeste (Barra, Recreio, Prainha, Grumari, etc), mas nos anos 70, a Zona Sul era realmente o palco principal na história do surfe no Rio de Janeiro.
A institucionalização do surfe, no entanto, só prosseguiu na década de 80. O órgão máximo dos esportes no Brasil, a Confederação Brasileira de Desportos, apenas reconheceu o surfe como esporte no ano de 1988, após a realização do primeiro campeonato brasileiro de surfe, em outubro daquele ano. Em 1989, o shaper carioca Henry Lelot e amigos fundaram a “Federação de Surfe do Estado do Rio de Janeiro” – na época, a segunda federação de surfe do Brasil.
Apesar do profissionalismo tardio do surf no Brasil, o Rio de Janeiro sempre foi um importante palco de competições. No antigo circuito mundial, o Rio já sediou 10 eventos.
Face ao exposto, proponho o presente projeto, que tornará o surfe, um patrimônio cultural de natureza imaterial na Cidade do Rio de Janeiro, confiando, para tanto, no apoio dos meus pares para sua aprovação.